Classical:NEXT questiona rotinas e proclama mudanças

Classical:NEXT questiona rotinas e proclama mudanças

Aos 40 anos, o maestro canadense Yannick Nézet-Séguin não pode ser considerado um millenial. Mas sua fala na abertura da conferência Classical:NEXT, na Holanda, mostrou o quanto ele se alinha a valores típicos da Geração Y. Em comum, o impulso para experimentar, transformar e mudar.

A sintonia do maestro com hábitos digitais contemporâneos começou pelo formato da apresentação.

Apesar de ser regente-titular da Filarmônica de Roterdã, cidade que sedia o encontro, e passar parte de seu tempo no mesmo complexo cultural De Doelen onde os mais de 900 participantes reúnem-se até sábado, Nézet-Séguin entrou em vídeo gravado, no telão.

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Foram poucos minutos de um discurso conciso e repleto de convocações à atualização de protocolos na música clássica.

"Precisamos variar nossa oferta", "O formato tradicional do concerto que começa às oito da noite e termina às dez não é para todos", "Temos que oferecer alternativas, sejam concertos de manhã cedo ou tarde da noite" e, frase mais comentada da noite, "Qualquer tipo de rotina é inimiga do que fazemos".

O artista canadense enfatizou que comunicação e abertura são conceitos-chave para músicos e instituições atuantes  no circuito de concertos na atualidade.

"Temos que ter coragem de seguir esse novo caminho. Mas não significa abrir mão de qualidade", advertiu. "E nem devemos ter vergonha de buscar abordagens diferentes. Devemos nos tornar mais relevantes e entrar de vez no século 21".

Yannick Nézet-Séguin observou aspectos que não podem nem devem mudar. "Uma sinfonia de Bruckner requer uma hora de execução e o ouvinte precisa estar em ritmo mais lento. Não temos como mexer nisso. Mas se a Yoga faz tanto sucesso oferecendo conexão interior, a música clássica pode proporcionar o mesmo", concluiu.

Os dois blocos de apresentação em vídeo do maestro canadense foram intercalados com falas presenciais do gerente geral da Fundação Filarmônica de Berlim, Martin Hoffman, que interagiu com as colocações do colega.

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Martin Hoffman

Ele também questionou o tradicional concerto das oito da noite."Em Berlim, estamos experimentando novos formatos. Quando iniciamos uma série tarde da noite, a partir de dez e meia, com repertório moderno e século 21, tivemos receio que o público não comparecesse. Mas o segundo evento já estava lotado", disse.

Hoffman acrescentou outras iniciativas diferenciadas: concertos no horário do almoço com 45 minutos de duração e espetáculos reunindo músicos da casa e artistas de jazz.

"Mas não queremos fazer revolução na estrutura do concerto. Somos obrigados a manter uma certa tradição, o público tem direito a ela", frisou. Para o executivo,  o momento atual é de transição. "Temos que experimentar o novo e aceitar que o fracasso faz parte".

Martin Hoffman observou que a geração nascida a partir dos anos 1960 cresceu afastada do circuito de concertos. "Precisamos possibilitar que esta geração entre em contato com o nosso mundo. Um investimento feito hoje para ser colhido no futuro."

Os canais de comunicação digital são fundamentais para chegar ao novo público. "A Filarmônica de Berlim é muito ativa na internet. Temos vinte mil assinantes dos concertos digitais e mais de oitocentos mil seguidores noFacebook, além de canal próprio no YouTube e um Twitter movimentado.

O executivo alemão questionou até o formato de concertos educativos. "Não devemos fazer apenas concertos para famílias, alunos e crianças. Temos que encontrar caminhos de engajar o público em programas diferenciados, fazer um trabalho mais forte e mais sustentável", concluiu.

A noite de abertura teve foco especial no Canadá. Houve breves apresentações da cantora Tanya Tagaq (que segue a tradição Inouit de throat-singing), grupo de câmara Continuum Contemporary Music, Quarteto de Cordas Cecilia e pianista Meguni Masaki, que apresentou uma inusitada peça para piano, projeção de video e eletroacústica da compositora Nicole Lizée, baseada em imagens de filmes de Alfred Hitchcock.

A diretora Jennifer Dautermann fez uma breve fala de boas-vindas aos participantes, lembrando que, mais do que um encontro anual, o Classical:NEXT é um movimento.

A conferência Classical:NEXT acontece entre os dias 20 e 23 de maio. São 25 painéis de conferência, dezenas de concertos ao vivo, pitches de projetos em video, sessões de mentoria e uma feira de negócios na qual nosso país está representado com stand do programa Brazil Music Exchange.

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O stand brasileiro

Trata-se de uma iniciativa da organização Brasil, Música & Artes em parceria com a Apex, agência de fomento de exportações do governo brasileiro. O programa garante a participação do país nas principais feiras de música do mundo, como Womex, Midem e SxSw. Desde 2014, há presença também no Classical:NEXT.

 

 

 

 

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