A música clássica e suas plateias na era digital

A música clássica e suas plateias na era digital

O título do post é exatamente o nome do colóquio internacional que ocorre esta semana na França: "La musique classique et ses publics à l'ère numerique".

Entre os dias 4 e 6 de fevereiro, dezenas de profissionais das áreas de História, Sociologia, Antropologia, Musicologia, Economia, Comunicação e Ciência da Informação reúnem-se em Paris para a conferência.

Eles trazem resultados de estudos recentes em sete países: França, Estados Undios, Alemanha, Áustria, Reino Unido, Portugal e Holanda.

Quem está à frente da organização é o sociólogo Stéphane Dorin, professor da Universidade de Limoges.

Ele próprio coordena uma extensa pesquisa sobre hábitos de frequentadores de concerto na França, voltada a compreender as mudanças de gosto musical e aferir o impacto das mídias digitais na formação de público.

O objetivo do encontro, que foi organizado como atividade complementar do estudo de Dorin, é discutir as relações da música clássica com a internet.

Clique aqui para acessar a programação completa do colóquio de Paris (texto em inglês).

O primeiro dia será dedicado ao papel do crowdfunding e das redes sociais, e também ao processo de transformação de concertos em formatos audiovisuais.  O patrimônio histórico musical e as transmissões de espetáculos serão discutidos sob a perspectiva digital.

Haverá apresentação do grupo vocal francês Ensemble101 – ouça aqui a música "norman (age29)", de Mike Solomon, integrante do conjunto.

ensemble101

Ensemble101

O segundo dia de colóquio é dedicado a discutir patrocínios públicos, o ambiente profissional da música clássica e o lugar do gênero na economia criativa. Haverá uma mesa sobre juventude & concertos e serão apresentados os resultados da pesquisa coordenada por Dorin.

No último dia, destaques para apresentação de estudo sobre as elites urbanas e a institucionalização da música clássica nas Américas; um painel que discute resultados de diversas pesquisas europeias sobre público de concertos; e o debate sobre a ampliação de fronteiras para chegar a novas plateias para os clássicos.

Única nota dissonante entre discussões tão contemporâneas é a imagem que ilustra o material gráfico do colóquio –  o desenho de uma sala de concertos antiga – , sem qualquer relação com o contexto  digital da conferência.  Mais analógico impossível.

 

coloque

 

Rua é lugar de orquestra?

Rua é lugar de orquestra?

Um projeto em São Paulo vem provando, desde 2012, que sim. A orquestra também pode encontrar seu lugar no movimento de arte nas ruas.

Tudo nasceu do desejo de três músicos de formação clássica: o violinista Leonardo Mallet, o violoncelista Matheus Bellini e o violista Caio Forster.

Eles se conheceram durante o curso de música em Santos (SP) e tiveram a ideia de levar música clássica para as ruas.

Primeiro, somente os três tocavam. Depois mais amigos se animaram. Quando o trio se mudou para a capital, veio a ideia de montar uma orquestra com todos os naipes de cordas.

Assim nasceu o Maratona Cultural - Orquestra na Rua, que já realizou vários eventos em ruas de São Paulo e Santos.

Quando uma data de apresentação é confirmada, imediatamente é feita uma convocação de músicos pelas redes sociais. Podem participar estudantes, amadores e profissionais.

As partituras das obras do concerto ficam disponível on-line, em um grupo do Facebook. Cada integrante ensaia sozinho, em sua casa.  O repertório tem músicas clássicas e populares.

No dia da apresentação, acontecem os ensaios em conjunto e também a apresentação.

É uma orquestra “espontânea”. A maioria dos músicos não se conhece e se encontra somente no dia. Gente de todas as idades: crianças, adolescentes, jovens, asultos e idosos.

O maior evento já realizado foi na Avenida Paulista, em 2013, reunindo 100 integrantes.

Clique aqui para ouvir o nosso boletim na Rádio CBN sobre o projeto.

Festas com música de câmara

Festas com música de câmara

Uma festinha em casa com os amigos, regada a cerveja, bate-papo e música de câmara.

Esta é a fórmula da rede social Groupmuse, criada nos Estados Unidos em 2013.

A homepage do site explica a proposta: "Groupmuse funciona como misto de concerto de câmara com festa doméstica. Combina música e atividade social, em partes iguais . Uma maneira de se divertir e se enriquecer como pessoa".

A iniciativa surgiu a partir das festas que o pianista brasileiro Cristian Budu dava em seu apartamento em Boston.

Ele chamava amigos, músicos ou não, que por sua vez chamavam amigos. As festas eram divertidas, muita gente jovem ouvindo música clássica pela primeira vez. Todos colaboravam com algum valor para os artistas.

As pessoas gostavam e queriam voltar. O lugar tornou-se pequeno. Sam Bodkin foi um dos convidados para as reuniões na casa de Cristian.

Foi dele a ideia de formar uma rede on-line para conectar anfitriões que querem abrir a casa para o evento, músicos em busca de novos ambientes para tocar e o público interessado em ver concertos em lugares descontraídos. Depois, Ezra Weller e Kyle Nichols-Schmolze também associaram-se ao projeto.

O anfitriões escolher receber apenas seus amigos ou então também abrir  lugar para frequentadores cadastrados no site.

Os organizadores sugerem uma contribuição para os músicos que se apresentam. O pagamento é feito após o concerto, em dinheiro.

Após um ano e meio de funcionamento, a rede social já organiza concertos diários na região de Boston e arredores. Muitos jovens músicos conseguem equalizar as finanças apenas tocando em groupmuses.

A rede pretende se estruturar no Brasil também. Em agosto e setembro de 2014, houve concertos inaugurais do Groupmuse em São Paulo e Rio de Janeiro.

Ouça aqui o Boletim VivaMúsica! na Rádio CBN que tratou do Groupmuse.